segunda-feira, 17 de abril de 2017

Levantamento do sigilo das delações expõe detalhes das contribuições a “Zorro” e “Bebê”

A divulgação do depoimento de executivos da Odebrecht S/A dentro dos acordos de delação premiada, entre eles a do diretor-superintendente de concessões da Odebrecht Ambiental, Guilherme Paschoal, trouxe novas e contundentes informações sobre o envolvimento do deputado estadual Frederico Antunes (PP) e do prefeito Ronnie Mello (PP), à época vereador, no repasse de recursos provenientes de caixa 2 da empresa.
Em um depoimento de 20 minutos, Paschoal contou em detalhes como, em reuniões que ocorreram em Porto Alegre, negociou contribuições para as campanhas eleitorais de 2014, para Frederico Antunes, e para Ronnie Mello, entre os meses de maio e julho daquele ano.
Frederico Antunes
De acordo com Paschoal, o encontro com Frederico foi no gabinete do deputado na Assembleia Legislativa. Na ocasião, Frederico solicitou apoio para a campanha eleitoral de 2014. Paschoal contou que, naquele dia, não foi informado a Frederico o valor da doação, que foi posteriormente decidido por outro executivo do grupo, superior hierárquico de Paschoal e também delator, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis.
“Frederico já era deputado estadual à época e já havia recebido outras contribuições do Grupo Odebrecht de via oficial e não oficial. Houve a solicitação, por ele, que a gente o apoiasse mais uma vez na campanha de 2014, e o encontro foi agendado para acontecer na própria Assembleia Legislativa do Estado. Eu estive na Assembleia, no gabinete no senhor Frederico Antunes para indicar nosso apoio e confirmar que a gente precisava do apoio do Frederico Antunes. O Frederico Antunes é um deputado influente e que poderia ajudar a gente a manter a estabilidade e equilíbrio na base do PP lá de Uruguaiana, que era um apoio que a gente precisava contra todas as diversidades que a gente passava. O Frederico Antunes se mostrou sempre favorável... ele entendeu a necessidade de que também apoiasse a gente com mais ênfase na base dele. Sempre se colocou à disposição e ajudou de fato”, explicou Paschoal.
Paschoal contou que os dados para entrega do valor foram repassados por ele próprio a um assessor de Frederico, em um encontro no Aeroporto Salgado Filho, em agosto daquele ano. Na ocasião, Frederico teria recebido R$ 70 mil e a entrega ocorreu em um endereço em Porto Alegre. Ainda conforme Paschoal, Antunes, cujo codinome era ‘Zorro’, já tinha conhecimento de todos os procedimentos adotados pela empresa para tais situações e sabia que os valores eram oriundos de Caixa 2.
Ronnie Mello
O encontro com Ronnie ocorreu em um hotel próximo ao Aeroporto Salgado Filho. Conforme Paschoal, Ronnie, que tinha o codinome de ‘Bebê’, sempre teve seu posicionamento em defesa da empresa na região reconhecido nos mais diversos escalões. “Foi um subordinado que me ligou e disse que eu precisa conhecer o Ronnie Mello, que era importante, e que o Ronnie Mello gostaria de conversar sobre a campanha dele. Marcou uma reunião em Porto Alegre... Chamei o Ronnie para tomar um café em outra mesa e conversei sozinho com o Ronnie... Ele solicitou apoio para a campanha e eu disse que ia levar a demanda dele até o meu superior para ver como contribuiríamos e disse a ele que a contribuição seria de Caixa 2 e expliquei a ele a razão. Foi uma conversa rápida. Levei a proposta nos dias seguintes ao Fernando e expliquei a ele quem era Ronnie Mello. Ele concordou e foram definidos os valores das contribuições... Quando recebi as informações, devido à distância, repassei a um emissário o endereço, a senha, a data e hora, e o emissário fez chegar até o Ronnie as informações para retirada do valor, também em Porto Alegre”, disse.
Outros políticos
As informações tornadas públicas também dizem respeito aos valores repassados a outros políticos, quatro dos quais comunicadores do rádio e que valeram-se de sua audiência para aventurar-se na carreira política, em tese, na defesa dos interesses da população, conforme tabela.
Cápua
A contribuição recebida por Ronnie Mello, da Cápua Engenharia, e denunciada pelo ex-secretário de Schneider, Fernando Alves, não faz parte das contribuições consideradas “Caixa 2”.
Ao Jornal CIDADE, e também através de notas oficiais e pronunciamentos públicos, todos os beneficiados, à exceção de Egídio Carvalho, alegaram desconhecer o conteúdo das delações ou atacaram as autoridades judiciais, acusando-as de atuação política, e negaram o recebimento de qualquer valor não declarado para suas campanhas eleitorais. Egídio alegou ter recebido valores por conta de do exercício de sua profissão de radialista.
Procurada pelo Jornal CIDADE, a Odebrecht S/A disse que é responsabilidade da Justiça a avaliação dos relatos de seus executivos e ex-executivos, e está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países onde atua. A empresa já reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.
Gabriela Barcellos

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